Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no Paraná, declarou que o procurador-geral da República, Augusto Aras, fez suposições sobre a operação desconexas da realidade. Ao UOL, o procurador disse que o embate entre a PGR (Procuradoria-Geral da República) e a Lava Jato poderia ser resolvida com conversas.
“A gente deve abrir canal do diálogo. Isso resolveria grande parte desses problemas. O procurador-geral fez uma série de suposições sobre a Lava Jato que não tem base nenhuma na realidade. Se ele tivesse buscado nos ouvir, entender o que estava acontecendo, certamente não faria as afirmações que fez”, afirmou Deltan em entrevista a Tales Faria e Thaís Oyama, colunistas do UOL.
Deltan exemplificou uma das “suposições” de Aras como o caso envolvendo a quantidade de informações que a força-tarefa possui. Em julho, o procurador-geral da República disse que a operação é uma “caixa de segredos” e que a Lava Jato tem 350 terabytes de informação enquanto o sistema do MPF (Ministério Público Federal) tem apenas 40 teras.
Segundo Deltan, o número de dados da operação é ainda maior do que o declarado por Aras e que grande material não é disponibilizado ao sistema central do MPF por ser resultado dos mandados de buscas e apreensões das investigações.
“Não entram os materiais apreendidos como áudios, vídeos e fotos, nas investigações e nas operações. Temos mais de 500 terabytes. Já temos 70 fases. Se em cada fase a gente apreendeu 7 teras, já chegamos nesse volume de dados”, explica Deltan.
PEDIDO DE AFASTAMENTO NÃO TEM BASE EM NADA, DIZ DELTAN
Deltan Dallagnol enfrenta nesta terça-feira (18) um julgamento que pode resultar no seu afastamento da coordenação na Lava Jato no Paraná.
O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) vai apreciar processos abertos pelos senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Kátia Abreu (PP-TO).
Calheiros aponta que Deltan o prejudicou na campanha à Presidência do Senado no ano passado. Já Abreu questiona a conduta de Deltan e também um acordo com a Petrobras que recuperou R$ 2,5 bilhões. O valor seria revertido a um fundo de uma instituição privada.
“O que está sendo julgado não são irregularidades da Lava Jato. O que existe são dois processos disciplinares por opiniões manifestadas publicamente. Agora quando se discute o meu afastamento com base nisso, é um afastamento com base em nada”, disse ele.
LAVA JATO É IMPARCIAL E NÃO DEPENDE DAS ESCOLHAS DE MORO
Deltan Dallagnol também reforçou que a Lava Jato é imparcial. Segundo ele, os integrantes da força-tarefa em Curitiba seguiram a convicção pessoal nas eleições em 2018.
“Quando você pergunta sobre votos, o que eu posso te assegurar é que dentro da equipe dos procuradores da Lava Jato em Curitiba teve quem votou Haddad, nulo e Bolsonaro”, declarou.
Apesar de abordar o tema, Deltan se negou a falar em quem votou: “Isso é absolutamente irrelevante para minha atuação”, diz.
Além disso, Deltan afirma que não vê a operação com perdas no apoio da sociedade. Segundo ele, são poucos bolsonaristas que se voltaram contra a Lava Jato após a saída de Sergio Moro do governo federal.
“Existem pessoas que vão politizar a Lava Jato e podem se opôr, mas acho que essa é uma minoria. Nosso trabalho é técnico, imparcial e independe dos caminhos que o ex-ministro Sergio Moro decidiu ou vai decidir trilhar. O que temos visto é que a maior parte da sociedade apoia a Lava Jato e que entende que não existiram abusos ou irregularidades cometidas”, finalizou.
Confira a íntegra da entrevista de Deltan ao UOL.