‘Fiquei preocupado, mas o bem vai e volta’, diz menino de 7 anos que caiu de bicicleta, riscou carro e deixou bilhete de desculpas


Benício Esmanhoto Hoffmann, curitibano, conta que não esperava que o gesto de honestidade gerasse tanta repercussão; dono do veículo disse que só viu o risco na lataria por causa do recado do garoto. Menino de 7 anos que caiu de bicicleta, riscou veículo e deixou bilhete pedindo desculpas ao dono
Arquivo pessoal/Marcel Weiss Hoffmann
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O sorriso sincero com alguns dentinhos faltando demonstra a pureza de quem, desde muito cedo, leva consigo valores de sobra. Benício Esmanhoto Hoffmann, de 7 anos, estava andando de bicicleta com o pai na rua, em Curitiba, quando se desequilibrou e bateu com o guidão em um carro.
Preocupado com seu “erro”, ele deixou um bilhete pedindo desculpas ao dono.
Em entrevista ao G1, Benício contou que, logo que ocorreu a situação, voltou para casa pensando em como pagar com seu próprio dinheiro.
“Na hora eu pensei: vou parar de andar bicicleta e pronto, acabou minha vida de ciclista. Eu fiquei anos juntando um pouquinho [de dinheiro] e daí tudo isso ia ser despejado em uma coisinha só. Fiquei preocupado, mas o bem sempre vai e volta, vai e volta, vai e volta”, disse o menino.
Marcel Weiss Hoffmann, pai de Benício, disse que o filho sempre reúne as moedas que ganha no dia a dia ou como presente em datas comemorativas, como o Natal, e que, após arranhar o carro, ficou angustiado em ver o filho tão decepcionado e querendo resolver o problema o quanto antes.
“Ficamos pensando no que fazer, não queríamos colocar no grupo da rua porque não tinha sido algo grave, ninguém tinha se machucado, né. Pegamos papel e caneta, e ele começou a escrever. Para nós foi uma história bem simples e corriqueira. No final do dia, o vizinho mandou uma mensagem falando que achou bem fofo o bilhete, mas que não precisava pagar nada”, comentou o pai.
‘Sensação ótima’
Benício relatou que em nenhum momento pensou em “fugir” das responsabilidades. Segundo ele, o mundo já está “ruim demais para mais pessoas fazerem o mal”.
“Para esse momento, em plena pandemia, isso tem que servir para fazer o bem. Essa sensação depois é ótima. A gente já está com pouca água, com coronavírus, tem bandidos roubando, tudo fechado, melhorar não piorar. A situação já está quase impossível. A ação do Marcelo [dono do carro] também foi boa por não ter pedido o pagamento”, pontuou o garoto.
Dono do carro disse que nem notou o risco na lataria, em Curitiba
Reprodução/RPC
Fama repentina
O dono do carro, Marcelo Martins, postou uma foto do bilhete com o pedido de desculpas em uma rede social. A foto, de domingo (13), teve mais de 350 mil curtidas e 35 mil compartilhamentos. Veja mais abaixo.
Em entrevista à RPC, Marcelo afirmou que foi surpreendido pelo gesto do menino.
“A gente acha que alguém que bate no seu carro pode sair correndo, ainda mais nesta idade, mas eu achei um gesto de uma doçura, de uma honestidade grande. Eu procurei de todos os lados, meu carro estava meio sujo e nem reparei. Se não fosse o bilhete eu nem tinha notado”, disse Marcelo.
Benício contou que não esperava que o vizinho fosse fazer a publicação e se assustou com a repercussão.
“Aconteceram rápido as coisas aqui. A primeira reação quando vi que rolou isso na internet foi: ‘O quê?!’ Para mim, foi estranho. Eu fiquei impressionado, foi um susto ficar famoso do nada. Quando eu quis pagar, ele não quis cobrar de mim. É o segundo amigo que eu faço no mesmo ano aqui. Deu boa”, afirmou o menino.
A foto teve mais de 350 mil curtidas e 42 mil compartilhamentos
Reprodução
‘Criança muito correta’
O pai do Benício afirmou que, mesmo conhecendo o jeito do filho e da educação que sempre buscou oferecer a ele, ficou contente com a atitude.
“Sempre foi um menino muito bom, carinhoso, atencioso, preocupado com os outros. Ele não sabe se quer ser juiz ou não porque ele tem medo que, no futuro, o juiz vai ser substituído por robôs. Ele sempre foi uma criança muito correta e me dá bronca quando eventualmente excedo a velocidade, por exemplo”, disse o pai.
Marcel Hoffmann comentou ainda que o que ele e a mãe de Benício buscam é que o filho sempre tenha segurança neles quando surgir um problema, que ele não precisa fugir da situação delicada.
“Quando a gente vê que ele se responsabiliza pelas ações assim, ficamos felizes. Ele sempre andou bem de bicicleta, sempre gostou. Só tombinho normal da idade. Ele anda sem as rodinhas [da bicicleta] desde os 3 anos. Pegou em casa aquelas bicicletinhas sem pedal e enlouqueceu de felicidade, fez questão que eu tirasse as rodinhas e o pedal da bicicleta dele”, relatou.
Por causa do isolamento, sem poder viajar e com sol quase todos os dias na capital, andar de bicicleta é e vai continuar sendo a atividade do pai e do filho, segundo eles.
“Foi assustador, mas passou. Agora vamos seguir a vida e tomar mais cuidado”, concluiu Benício.
Benício, de 7 anos, deixou um bilhete após riscar carro sem querer, em Curitiba
Reprodução/RPC
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By Victoria Poletti

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