Empresários Germán e José Efromovich foram presos nesta quarta (19), na 72ª fase da operação; contrato de estaleiro com a subsidiária da Petrobras previa construção de quatro navios. Navio Anita Garibaldi foi feito pelo estaleiro Eisa, em contrato com a Transpetro
Petrobras/Divulgação
O único navio entregue à Transpetro, subsidiária da Petrobras, pelo estaleiro dos empresários Germán Efromovich e José Efromovich, presos em São Paulo (SP) nesta quarta-feira (19) na 72ª fase da Operação Lava Jato, precisou de reparos de R$ 2,5 milhões após a conclusão.
A informação consta no relatório final da Comissão Interna de Apuração (CIA) da Transpetro, de março de 2019, anexado ao pedido do Ministério Público Federal (MPF) à Justiça que embasou a deflagração da operação desta manhã. O prejuízo com os defeitos foi estimado em 2017.
O navio precisou de reparos logo depois de ser liberada para navegação, em 2015. Conforme o relatório, o navio teve que parar prematuramente na Turquia para correção de problemas necessária para garantir a segurança.
Isso gerou gastos de R$ 2,2 milhões, em valores atualizados, para fazer os reparos no navio chamado de Anita Garibaldi, apontou o relatório.
Os empresários são investigados por suposto envolvimento em um esquema de corrupção que envolve contratos da Estaleiro Ilha S/A (Eisa) – uma das empresas do conglomerado da família Efromovich – com a Transpetro, informou o MPF.
De acordo com os procuradores, os empresários pagaram cerca de R$ 40 milhões em propina a Sérgio Machado, então presidente da Transpetro, entre 2009 e 2013. Machado tem acordo de colaboração premiada com o MPF.
Empresários José (à esquerda) e German Efromovich, donos da Avianca Holding
Darlan Alvarenga/G1 e Niels Andreas/Agência Estado
A reportagem entrou em contato com o estaleiro Eisa e aguarda retorno. O G1 tenta localizar a defesa dos empresários.
A investigação do MPF apontou que a contratação do estaleiro para fazer os quatro navios Panamax, de 228 metros de comprimento, foi de forma direta em 2008 – após a rescisão dos contratos com outra empresa.
O contrato era de R$ 857 milhões e contrariou o relatório de uma consultoria que apontava que a Eisa não tinha capacidade para atender o contrato. A entrega do único navio concluído foi em dezembro de 2014.
“Mesmo com aparente longo atraso na entrega, foi necessário devolver o navio para diversos reparos, custeados pela própria Transpetro”, afirmou a juíza federal Gabriela Hardt, da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, que autorizou a operação.
O relatório da investigação interna da Transpetro indicou que a entrega do navio ocorreu em duas etapas. Na primeira, que foi a entrega formal, a investigação apontou que a embarcação não tinha condições “efetivas de navegação”, ficando três meses parado para solução dos problemas.
Depois disso, ainda segundo o relatório, ocorreu a saída para navegação e a necessidade de reparos na Turquia. O documento informou que o estaleiro Eisa não tinha estrutura para construção dos navios e que ocorreram sucessivas prorrogações de prazos de entrega.
“Após inúmeros problemas, tais como reivindicação do Eisa de pagamento de mais de R$ 100 milhões sob alegação de desequilíbrio econômico-financeiro, bem como o ajuizamento de ação pelo Eisa para transferência das obrigações trabalhistas para a Transpetro, os contratos para a construção dos navios remanescentes foram rescindidos em 31/07/2015”, diz a juíza.
Prisão domiciliar e bloqueio de R$ 651 milhões
PF prende dois empresários suspeitos de pagar propina em troca de contratos com Transpetro
As duas prisões são preventivas e foram convertidas em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico por conta da pandemia do coronavírus.
Além das prisões, seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Alagoas e no Rio de Janeiro na atual fase da operação, que foi batizada de “Navegar é Preciso”.
Os irmãos Efromovich também são sócios da Avianca Holdings, segunda maior companhia aérea da América Latina, que está em recuperação judicial. Nem a Avianca Holdings nem Ocean Air (nome oficial da Avianca Brasil, que teve falência decretada) são citadas na investigação.
A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 651 milhões dos irmãos Efromovich e de empresas controladas por eles
Segundo o MPF, uma apuração interna da Transpetro indicou que a atuação dos executivos do estaleiro Eisa junto a Sérgio Machado causou prejuízos de mais de R$ 611 milhões à Transpetro.
Além da entrega irregular de apenas um dos navios contratados, o contrato do estaleiro com a companhia ainda gerou a transferência de dívidas trabalhistas da Eisa à Transpetro.
O cálculo do prejuízo também leva em conta o adiantamento de pagamentos ao estaleiro sem a devida prestação de contas.
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