Deputados da bancada religiosa elogiaram a escolha do professor e pastor Milton Ribeiro para o Ministério da Educação. O novo chefe da pasta é ligado a algumas lideranças evangélicas do parlamento, que o classificam como um “ótimo quadro” e afirmam que, apesar de atender a pautas apoiadas por parlamentares religiosos, não deve colocar a ideologia à frente de outras prioridades.
No entanto, deputados negam que ele tenha sido uma indicação da bancada. Marco Feliciano, do Republicanos, disse que foi uma escolha pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Outros apoiadores do governo destacaram o currículo de Ribeiro, onde consta mestrado em Direito Constitucional e doutorado em Educação. “Acredito que ele vai mostrar principalmente seu lado técnico, e demonstrar acima de tudo que o governo Bolsonaro está muito interessado em fazer com que o MEC seja um dos melhores e mais brilhantes no Brasil”, afirma o deputado Bibo Nunes (PSL-RS).
Desafios
Em nota, o instituto Todos pela Educação afirmou que, se o objetivo do ministro for melhorar a educação brasileira, vai ter que fazer o contrário do que o governo federal fez até agora. A organização destaca a falta de experiência na gestão pública educacional, e questiona se Ribeiro dará sequência a uma agenda desestabilizada e voltada à guerra ideológica, ou se buscará um caminho junto aos desafios reais da educação.
Também há criticas à escolha de integrantes do governo para o Conselho Nacional de Educação. Segundo o instituto, a decisão deixa de fora representantes das redes de ensino, e adiciona fervura a um quadro já tumultuado. Para deputados de centro e oposição, a expectativa é que o novo chefe do MEC tenha um comportamento diferente dos antecessores.
O presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), afirma que a expectativa é que um “ciclo negativo” possa ser encerrado, e que o foco seja direcionado a um trabalho de articulação para lidar com os impactos da pandemia, incluindo a valorização do professor. “Existe uma agenda muito robusta, que está posta e que precisa de um olhar prioritário e exclusivo”, diz.
Já deputado Professor Israel Batista (PV-DF) aponta que a guerra cultural afastou o MEC de discussões importantes da Educação, e cobra uma mudança de posição. “O MEC precisa de uma gestão técnica e não ideológica. Espero que o ministro Milton Ribeiro resista as pressões e à guerra cultural olavista que paralisaram o ministério durante todo o ano de 2019 e todo o primeiro semestre de 2020″, afirma.
Em uma live, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso destacou a descontinuidade de ministros nos últimos anos, quando muitos nomes diferentes ocuparam o MEC, e criticou os chefes da pasta mais recentes. “É necessária uma política pública que possa resistir a essa descontinuidade, sendo que, no caso mais recente, ainda escolheram gente com ciclo civilizatório incompleto. Não se pode entregar a educação para concepções pré-iluministas da vida”, comentou.
Logo na primeira semana de Ribeiro como ministro, a Câmara dos Deputados deve votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que fomenta a educação básica no país e precisa ser renovado, pois expira no final deste ano. A atual versão do texto desagradava a gestão anterior de Abraham Weintraub, que considerava exagerada a participação da União no montante.
* Com informações do repórter Levy Guimarães