Professores do Paraná se inspiram em Van Gogh para lecionar de língua portuguesa à matemática cósmica: ‘Ensinar também é uma arte’, diz docente


Pintor foi escolhido por eles pela história de vida e para trazer o tema do ‘isolamento’ para a sala de aula, já que alunos e professores enfrentam o desafio de ensinar e aprender a distância. Professores se inspiram em Van Gogh para ensinar de língua portuguesa à matemática cósmica
Arquivo pessoal/Diony Rodrigues/Andreza Pessôa
Com tinta guache, lã, papel e criatividade, três professores do Paraná apostaram em ministrar as aulas de maneira colorida e cheia de conhecimento durante a pandemia. Eles se inspiram no pintor holandês Vincent Van Gogh para ensinar gramática, arte e até cálculos matemáticos.
Diony Rodrigues, Andreza Pessôa e Morgana Carvalho não combinaram a escolha pelo mesmo artista.
O que motivou os três foi apresentar, aos alunos de ensino fundamental e médio, a história de Van Gogh e também levar o tema de ‘isolamento’ para a sala de aula, considerando que alunos e professores enfrentam o desafio de ensinar e aprender a distância.
“Ensinar também é uma arte. A forma como ele pintava permite que tenhamos um olhar voltado para a ciência, a literatura, a história. Ele expressava muito os sentimentos e a dor da solidão também”, diz Rodrigues.
Segundo os docentes, desde que a escola passou do meio presencial para o virtual, é necessário pensar em maneiras de prender a atenção dos estudantes e também de transformar as aulas em uma fuga da realidade pesada que todos enfrentam, inclusive crianças e adolescentes.
Conforme a Secretaria Estadual de Educação (Seed), desde abril, quase 1,1 milhão de estudantes da rede pública e de ensino do Paraná estão tendo aulas remotas. A previsão é que as aulas presenciais voltem em setembro no estado, segundo o diretor-geral da secretaria Gláucio Dias.
‘Captar a essência’
Professor resolveu se caracterizar para aproximar mais os conteúdos dos alunos
Arquivo pessoal/Diony Rodrigues
Diony Rodrigues é professor de artes no Colégio Positivo, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná. Ele ainda estava com a imunidade baixa, recuperando-se de dengue, isolado no sítio da família para se proteger do coronavírus, quando resolveu se caracterizar de Van Gogh para aproximar mais o conteúdo dos alunos.
“Essa ideia de eu me caracterizar, trazer uma imagem dele como se fosse minha, contando a história, ajudou eles a captar melhor a essência, a gravar mais do conteúdo. A cor envolve a ciência, a química. As obras envolvem a matemática para trabalhar a perspectiva, a profundidade”, comentou.
Para as primeiras aulas, Rodrigues foi para o meio da plantação para gravar sobre o movimento realista na Europa – que valorizava o que não era aceito nas artes da época, como o camponês.
Ele pegou roupas e tintas velhas e se caracterizou para representar um dos autorretratos do artista. Vendo que a proposta gerou maior engajamento e foi bem aceita pelos estudantes, o professor resolveu apostar em outras ‘fantasias’. Assista ao vídeo abaixo.
“Também já me caracterizei de monge e de plebeu para falar sobre a Idade Média. Eles vão lembrar lá no vestibular e nas provas do professor pintado, no meio do mato com chapéu, música medieval e outras coisas diferentes. Quando a gente associa conteúdos a coisas visuais, os alunos conseguem absorver mais”, disse.
Professor Diony Rodrigues usa referências artísticas em vídeos
Na arte das palavras
A língua portuguesa também abriu espaço para Van Gogh. A professora Andreza Pessôa, de Curitiba, resolveu fazer algo para os alunos voltarem a ser mais participativos e, por isso, começou a se caracterizar também.
“Van Gogh foi um artista excepcional, mas que sofreu demais, teve muita solidão. Isso acaba batendo com o que a gente está vivendo também. Não na mesma intensidade, não temos como comparar uma época com a outra, mas a gente também sofre com esse isolamento, essa dificuldade de lidar com nossos sentimentos”, disse ela.
Para se inspirar no pintor, Andreza usou os recursos que tinha em casa. Para a barba, usou papel-parana, elástico, lã, tinta guache e cola. Depois disso, ela também se caracterizou de Frida Kahlo, Afarin Sajedi, Harry Potter, Emília e Smurfete.
Professora resolveu fazer algo para os alunos voltarem a ser mais participativos nas aulas
Arquivo pessoal/Andreza Pessôa
“A gente está vivendo dias tão difíceis e sombrios, mas é preciso atravessá-los com uma certa leveza. Os professores não vendem o trabalho, eles oferecem, e a minha tentativa é sempre oferecer o melhor. Eles perguntam mais, interagem mais e chamam até os pais para assistir as aulas agora”, conta.
Segundo ela, a quantidade de alunos na sala online aumentou porque alunos de outras turmas também quiseram assistir.
“Já perguntei para eles se não me acham meio bobona de fazer essas coisas, e eles falaram: ‘não, por favor, continue’. Agora eles querem até escolher o próximo artista. Fazer as caracterizações, pensar e construir a roupa me ajuda a equilibrar a saúde mental”, relatou Andreza.
Matemática cósmica na obra
Para uma websérie sobre mitos e verdades das artes, a professora de Curitiba Morgana Carvalho, que também estudou Engenharia Civil, teve o desafio de explicar aos alunos que Van Gogh em um dos surtos psicóticos, observando o céu, conseguiu retratar o movimento do cosmos assim como eles realmente fluem no céu.
“Tentar entender a obra ‘A Noite Estrelada’, que alguns matemáticos descobriram que é possível visualizar um teorema matemático. Agora, eu também trabalho o Van Gogh com os autorretratos do artista na educação infantil”.
Morgana estudou obras de Van Gogh e também usa autorretratos do artista na educação infantil
Arquivo pessoal/Morgana Carvalho
De acordo com Morgana, os autorretratos ajudam a trabalhar o corpo humano, pois a criança ainda está aprendendo onde fica o nariz, o olho e onde se usa cada acessório, como o chapéu.
“Parece simples, mas para uma criança ainda é complicado. É interessante ver como eles se percebem mesmo ainda pequenos. Com o Van Gogh, a gente usa desde a biografia dele até os girassóis, os movimentos, a singularidade. Mesmo depois de 130 anos de sua morte, ele ainda ensina muito”, completou a professora.
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By Victoria Poletti

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