Para quem pensa que o governo do presidente Jair Bolsonaro está com militares demais, os comandantes da Marinha e da Aeronáutica se queixam que só o Exército está sendo chamado para “missões” no primeiro escalão. Ao nomear um oficial da Marinha como ministro da Educação, o presidente põe num dos principais postos da Esplanada um representante da farda branca, e agora a Aeronáutica fica na espera.
O novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, tem experiência como professor da Escola de Guerra Naval, mas não como educador e formulador de políticas educacionais, e este é o grande debate na pasta. Haverá dificuldades com o grupo do Ministério da Educação e a linha mais purista de reitores de universidades públicas. O novo ministro Decotelli já tem conhecimento de como funciona o Ministério e atuou como presidente do FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Por ali passam interesses do sistema que sustenta a educação, e ele conheceu de perto como funciona a ligação das escolas de todo país e a estrutura do Ministério.
A vantagem do professor Decotelli é que ele chega depois de um cenário de guerra interna onde não será difícil retomar a normalidade e a paz. A passagem do Abraham Weintraub provocou traumas nos relacionamentos internos que deixam cicatrizes, mas facilidades para a retomada de condições de trabalho. Mais ou menos como a história do bode que se põe na sala quando a situação econômica não é boa. Com a reclamação geral, o bode é tirado, e todos ficam aliviados e felizes, sem se preocupar com a situação financeira que não melhorou.
O militar é por natureza cartesiano e busca resultado. O sentimento de patriotismo entra na alma com a convivência na caserna. É a administração mais antiga do mundo e funciona à base de hierarquia total e respeito às decisões. Este tipo de procedimento é o que quer o presidente para o Ministério, uma gestão prática na Educação e com resultado. A exigência máxima é que o modelo de ensino passe longe do guru da educação no Brasil, Paulo Freire, o patrono do setor.
O que aproxima o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, e o antigo, Abrham Weintraub, é a formação: os dois são economistas. Há no governo uma certeza de que falta na educação brasileira uma gestão eficiente. A origem da briga com o terceiro setor é exatamente esta visão. Grupos que se acostumaram a receber verbas públicas e se aproveitar de subsídios para desenvolver teorias da educação irritam o presidente Jair Bolsonaro e aliados. Estes continuarão longe.
Um estudo profundo feito pelo economista Herton Hellery Araújo, do Ipea, concluiu que o problema na educação brasileira é de gestão e não de verba. O técnico se aprofundou na pesquisa e foi atrás de municípios que tiveram os melhores e os piores índices nas avaliações e mostrou que comprometimento, método, sequência de trabalho e apoio dos governantes são os critérios comuns nos governos com melhores resultados. A demonstração de que o Brasil já investe em educação o suficiente para ter um bom resultado irrita setores comensais que perdem a bandeira gasta de “mais verbas para a educação”.
Sem ilusões, saiba o oficial da Marinha, professor de Jogos de Guerra e economista renomado que fez mestrado, doutorado e pós-doutorado, que está entrando numa guerra difícil. Antes que me esqueça, o doutor Carlos Alberto Decotelli será o primeiro negro no primeiro escalão do governo, mas não chegou a este posto por isto.
*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política