Sem trabalho há 6 meses, profissionais de eventos pedem planejamento: ‘A gente sabe que é impossível fazer sem regras’


Em todo o país, de acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos, a estimativa é a de que até outubro 841 mil pessoas que trabalham na área estejam desempregadas. Eventos estão proibidos durante a pandemia por causa da aglomeração de pessoas
Lening Abdala/Divulgação
Sem trabalho há seis meses por causa da pandemia do novo coronavírus, profissionais do setor de eventos amargam nas incertezas e indefinições que rodeiam o segmento.
Um decreto estadual de enfrentamento da pandemia do coronavírus suspendeu em 16 de março eventos abertos ao público, de qualquer natureza, com aglomeração acima de 50 pessoas no Paraná.
Número de casos confirmados passa de 175 mil com 4.378 mortes no Paraná
Em todo o país, de acordo com a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), a estimativa é de que até outubro 841 mil pessoas que trabalham na área estejam desempregadas.
Sem trabalho por causa da pandemia, ator cria marca para vender pão por delivery e discutir temática LGBTQ+
“Está 100% parado desde março. No Paraná e em Curitiba, nada acontece para planejar a retomada”, afirmou o vice-presidente da Abrape na região Sul, Mac Lovio Solek.
Mac Lovio Solek é vice-presidente da Abrape na região Sul
Lening Abdala/Divulgação
O levantamento feito pela Abrape aponta que mais de 90% dos eventos previstos para 2020 foram cancelados, adiados ou estão em situação incerta no Brasil. Isso significa que 450 mil eventos, até outubro, estão deixando de acontecer.
CORONAVÍRUS NO PARANÁ: Veja as principais notícias
PANDEMIA EM NÚMEROS: Confira o mapa com os dados por cidade
Expectativa x Realidade
O cenário atual está na contramão do que era esperado para este ano. A expectativa da Abrape era de que o aumento da receita de shows, por exemplo, fosse 6,15% maior na relação com 2019.
Na capital paranaense, no ano passado, foram realizados cerca de três mil eventos, segundo o Convention&Visitors Bureau. O setor gerou, em média, 40 mil empregos diretos e indiretos.
De aulas remotas a apresentações virtuais, artistas se reinventam na pandemia: ‘O 1º a ser impactado e o último a normalizar’, diz profissional
Skank em show na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, em dezembro de 2019
Lening Abdala/Divulgação
Os dados também mostram que esses eventos – como shows, festivais, congressos e feiras – atraíram aproximadamente 350 mil turistas para a cidade.
“A gente sabe que é impossível fazer eventos sem regras [devido a pandemia]. O que a gente quer é um planejamento, é o que estamos cobrando. As coisas não estão sendo resolvidas”, explicou Solek.
Os profissionais do setor
Neste mês, profissionais do setor fizeram um protesto na capital pedindo um plano emergencial.
A lista de profissionais que fazem parte da área de eventos é grande:
Produtores
Gerentes operacionais
Diretores técnicos
Cerimonialistas
Técnicos
Montadores
Auxiliares técnicos
Carregadores
Músicos
Recepcionistas
Garçons
Brigadistas
Seguranças
Bartenders
Auxiliares da limpeza
Promoters
Motoristas
“O nosso setor tem muito autônomo, profissionais independentes. É uma economia informal muito grande, que injeta muito dinheiro no país. É responsável por quase 5% do PIB [Produto Interno Bruto] do país”, afirmou Solek.
Profissionais de eventos pediram, em ato em Curitiba, plano emergencial
Franklin de Freitas/Divulgação
À espera de respostas
No Paraná, representantes do setor de eventos já se reuniram com o governo estadual e com a Prefeitura de Curitiba. Agora, eles esperaram por respostas.
Solek disse que o segmento sabe que os eventos não voltarão a ocorrer de maneira normal antes da vacina contra a Covid-19. Contudo, argumentou que algo precisa ser feito – com protocolo e formas controle.
“Se um avião pode voar lotado, por que um teatro não pode ter uma apresentação com distanciamento social e número limitado de público?”, questionou.
Delivery de música, serenatas e aulas pela internet: veja como artistas estão se reinventando durante a quarentena no Paraná
Ele ainda explicou que, no setor, os eventos não acontecem do dia para a noite. O planejamento para um show pode começar até três meses antes, por exemplo.
Empresas da área estão quebrando com a pandemia, conforme Solek, pois não tem o que fazer já que eventos não estão sendo feitos.
Para Solek, há descaso por parte dos gestores públicos em relação ao setor de eventos.
Capital Inicial em festival na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, em dezembro de 2019
Lening Abdala/Divulgação
O que dizem os gestores públicos?
Prefeitura de Curitiba
A Secretaria Municipal da Saúde informou que apesar de todo o conhecimento adquirido desde o início da pandemia do novo coronavírus em Curitiba, em março, ainda há dificuldades para previsões a médio e longo prazos.
A pasta explicou que acredita que o pico da doença já passou e que a tendência é de um cenário mais tranquilo, mas não dá para saber como o vírus vai se comportar nos próximos meses.
Curitiba lança programa de retomada da economia, com pacote de R$ 220 milhões
No começo de agosto, a prefeitura lançou um programa de retomada da economia, com um pacote de R$ 220 milhões – na forma de injeção de recursos e na postergação de recebimento de alguns valores competentes ao município, como impostos e cobranças.
Um programa de apoio financeiro a artistas, no valor de R$ 3 milhões, faz parte do plano.
A administração municipal também regulamentou, ainda em junho, eventos “drive-in” – que são aqueles em que não é preciso sair do carro para participar.
Eventos ‘drive-in’ são regulamentados, em Curitiba
Daniel Castellano/SMCS
Para a licença ou o alvará para a realização de eventos “drive-in” ser concedido, os responsáveis devem seguir as orientações e os protocolos da Secretaria Municipal da Saúde sobre a prevenção do contágio do novo coronavírus.
Além disso, segundo a Fundação Cultural de Curitiba (FCC), ações para minimizar os efeitos da suspensão das atividades e fechamento dos espaços culturais junto aos artistas e ao público têm sido desenvolvidas desde março.
Conforme a FCC, foram realizados vários projetos emergenciais para apoiar economicamente a classe artística e os trabalhadores do setor.
Editais selecionam trabalhos de artistas durante a pandemia do novo coronavírus
Um edital emergencial destinado aos trabalhadores da cultura, no valor de R$ 450 mil, selecionou 300 projetos de conteúdo audiovisual para divulgação nas redes sociais da FCC.
A Fundação Cultural informou que um 2º edital no mesmo valor está sendo lançado. Dessa maneira, de acordo com ma FCC, artistas e técnicos são atendidos com alternativas para a subsistência nesse período de crise.
Artistas cobram mais apoio para a Cultura
Já o Instituto Municipal de Turismo de Curitiba garantiu que o canal de comunicação com o setor de eventos está aberto. Porém, retorno dos eventos está atrelado à questão epidemiológica da cidade.
Segundo o instituto, novos protocolos estão sendo avaliados para quando for possível a realização de eventos na capital paranaense.
Governo do Paraná
O governo estadual ressaltou que mantém em vigor normas estabelecidas pelo decreto 4230/20 para o enfrentamento da pandemia.
Também disse que as prefeituras podem ter entendimento diverso ao governo estadual sobre as medidas relativas à pandemia, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal (STF) em abril.
Supremo decide que estados e municípios têm poder para definir regras sobre isolamento
Por meio de nota, o governo estadual afirmou que tem dedicado esforços, por meio da Superintendência de Cultura, para auxiliar a classe artística.
Mais de R$ 71 milhões serão distribuídos a trabalhadores da cultura no Paraná pela Lei Aldir Blanc. Ela oferece renda emergencial a trabalhadores da cultura durante a pandemia do coronavírus.
Paraná abre cadastro para renda emergencial a trabalhadores da cultura pela Lei Aldir Blanc
Lei Aldir Blanc: entenda funciona a ajuda emergencial ao setor cultural
Edital seleciona mais de 500 produções feitas em casa para exibição pela internet
Divulgação/AEN
O governo estadual também disse que lançou um pacote de medidas de apoio e fortalecimento do setor cultural. É uma série de ações voltadas à valorização de artistas, gestores e produtores culturais.
O edital “Cultura Feita em Casa”, por exemplo, beneficiou 510 produções digitais autorais para que sejam exibidas em plataformas de streaming e nas redes sociais.
Há ainda, de acordo com o governo estadual, ferramentas de capacitações de profissionais da área cultural e outros editais que atendem inúmeras linguagens e setores culturais – como o “Trilhando pelo Paraná”.
Editais selecionam trabalhos de artistas durante a pandemia do novo coronavírus
Por fim, o governo estadual afirmou que a 2ª edição do Incentivo Paraná Cultural vai selecionar projetos com previsão de execução até 2021.
O programa destina recursos via incentivo fiscal de empresas públicas e/ou de economia mista estaduais a projetos culturais aprovados pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Initial plugin text
Veja mais notícias do estado no G1 Paraná.

By Victoria Poletti

Confira!